Quero a infância de volta,
Um sol que brilhe forte,
Um frio agradável,
Um sorriso que aqueça,
Um riso que ressoe,
Um edredom confortável,
Uma grana na conta,
Um jantar delicioso,
Um vestido novo,
Uma música tocando,
Um beijo no rosto,
Um abraço apertado...
Quero um botão colorido,
Um bolinha de gude,
Uma palavra bonita,
Uma letra caprichada,
Um livro novo,
Um tênis velho,
Um caminho desconhecido,
Flores num vaso,
Uma casinha no campo,
Um banco no quintal,
Um balanço na varanda,
Um céu estrelado.
29 de jun. de 2010
25 de jun. de 2010
Janela
Tenho como plano de fundo do meu computador de trabalho uma ilustração de Tiago Valadão, criador das tirinhas do Otto e do Heitor. Nesta ilustração, Otto e Heitor estão à janela, à noite, olhando as estrelas. Uma delas brilha fortemente no céu escuro.
Toda vez que consigo olhar com atenção para eles, fico imaginando a mesma situação: olhar por uma janelinha para o azul estrelado, pensando na vida.
Adoro escrever, mas não tenho isso por hábito. Ao olhar, mais uma vez, para os dois meninos hoje, lembrei de nossa condição de sonhadores e pensadores do que já tivemos e do que ainda está por vir. Bateu uma nostalgia e uma vontade de teclar furiosamente para produzir alguma coisa, registrar uma impressão, exercitar a imaginação.
Enquanto escrevo, não penso muito no sentido que o texto está ganhando, apenas teclo minhas impressões e deixo os pensamentos levarem meus dedos sobre as teclas.
O exercício de escrever, de mostrar o que “sabe”, o que sente é libertador, estimulante, viciante. Faz falta poder refletir e pôr no papel (ou teclado/tela) as reflexões saídas como uma avalanche de nossas mentes.
O Otto e o Heitor sonham com mais um dia em frente à TV, aos jogos, às brincadeiras e a um lindo dia sem escola. A Lisi sonha com mais tempo, uma casa pronta e decorada, uma pós conquistada, um trabalho bem feito (e, de preferência, bem remunerado).
Em tempos de 140 caracteres reflexões precisam ser rápidas, sonhos necessitam de imagens e vídeo para serem expressos e compreendidos, falta espaço para pensamento maiores, melhores, completos.
Quero olhar por minha janelinha e poder ver as cores lá fora, o pássaro na árvore, a folha amarelada, o galho que balança. Quero sonhar com chocolate quente no frio, um filme no DVD, uma piada no livro, um sorriso de criança.
Mais uma semana chega ao fim, mas nada fizemos, pouco sonhamos, menos ainda ousamos. Vou deixar para a próxima. Vou tentar na próxima. Vou sonhar sempre.
Lisiane Bender da Silveira
Toda vez que consigo olhar com atenção para eles, fico imaginando a mesma situação: olhar por uma janelinha para o azul estrelado, pensando na vida.
Adoro escrever, mas não tenho isso por hábito. Ao olhar, mais uma vez, para os dois meninos hoje, lembrei de nossa condição de sonhadores e pensadores do que já tivemos e do que ainda está por vir. Bateu uma nostalgia e uma vontade de teclar furiosamente para produzir alguma coisa, registrar uma impressão, exercitar a imaginação.
Enquanto escrevo, não penso muito no sentido que o texto está ganhando, apenas teclo minhas impressões e deixo os pensamentos levarem meus dedos sobre as teclas.
O exercício de escrever, de mostrar o que “sabe”, o que sente é libertador, estimulante, viciante. Faz falta poder refletir e pôr no papel (ou teclado/tela) as reflexões saídas como uma avalanche de nossas mentes.
O Otto e o Heitor sonham com mais um dia em frente à TV, aos jogos, às brincadeiras e a um lindo dia sem escola. A Lisi sonha com mais tempo, uma casa pronta e decorada, uma pós conquistada, um trabalho bem feito (e, de preferência, bem remunerado).
Em tempos de 140 caracteres reflexões precisam ser rápidas, sonhos necessitam de imagens e vídeo para serem expressos e compreendidos, falta espaço para pensamento maiores, melhores, completos.
Quero olhar por minha janelinha e poder ver as cores lá fora, o pássaro na árvore, a folha amarelada, o galho que balança. Quero sonhar com chocolate quente no frio, um filme no DVD, uma piada no livro, um sorriso de criança.
Mais uma semana chega ao fim, mas nada fizemos, pouco sonhamos, menos ainda ousamos. Vou deixar para a próxima. Vou tentar na próxima. Vou sonhar sempre.
Lisiane Bender da Silveira
23 de jun. de 2010
Pequenas alegrias

Há tempos que queria postar aqui...
Céo Pontual faz ilustrações para frases, sempre com bom humor, poesia e beleza... aqui!
Vale a pena a visita!
21 de jun. de 2010
Mãos ao alto, professora
Mãos ao alto, professora
Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre-RS, página 4 da edição de 17.06.2010
www.correiodopovo.com.br juremir@correiodopovo.com.br
As palavras mudam de sentido. Muda uma letra, ou duas, e muda tudo. Craque virou crack. Vida de professor transformou-se em atividade de alto risco. Uma professora foi assaltada, em Porto Alegre , dentro da sala de aula, por um adolescente armado com um revólver enferrujado, calibre 32. O guri era ex-aluno da escola. Houve um tempo, perdido nas brumas do passado, em que professores e salas de aula eram sagrados. Levava-se maçã para a professora. Muitas vezes, a professorinha era o primeiro amor, idealizado, impossível, platônico, de um menino. A sala de aula era o lugar da autonomia do mestre, um templo, um palco, a esfera maior do conhecimento. Acabou.
As balas de hoje destinadas aos professores são de revólver. A situação é tão melancólica, para bem e para mal, que o assaltante não tinha munição. Roubou R$ 10,00 da professora. Essa quantia diz muito, diz tudo, grita como o sintoma de uma doença grave, um mal que está aí, bem aí, mas vai sendo empurrado com a barriga. Talvez a professora assaltada seja uma pessoa sensata, aos 58 anos de idade, e não vá para a escola com muito dinheiro na bolsa. Ou quem sabe, escolada, como todos nós, carregue apenas o dinheiro do transporte e o dinheiro do ladrão. Mais provável é que uma professora, na metade do mês, não tenha mais do que R$ 10,00 para carregar no bolso. Esse é o estado das coisas, o estado ao qual chegamos, o caos.
E os governos, que ainda não fizeram a parte deles, não garantiram sequer a integridade dos professores, desandam a falar em meritocracia, transferindo para os professores, que ganham pouco e são agora assaltados dentro das salas de aula, a responsabilidade pela falência do sistema. Ao defender a tal meritocracia, os tecnocratas e os políticos, falsamente racionalistas, estão dizendo que se algo vai mal é por culpa da preguiça ou da incompetência dos professores. Essa é uma das maiores infâmias destes dias melancólicos em que, paradoxalmente, fala-se em sociedade da informação, mas se faz do saber uma categoria de quinta classe. Escolinha como objeto de desejo de pais e alunos , só de futebol. Nelas, talvez o mestre ainda seja respeitado e receba doces. Nem que seja por medo de se perder lugar no time.
Eu ainda sonho com um Brasil voltado para a escola como espaço sagrado. Isso só acontecerá a partir do momento em que se considerar o ensino como primordial e os salários forem melhorados a ponto de alterar a vida cotidiana e cultural dos mestres. Um professor precisa ganhar o suficiente para comprar livros todo mês, ir ao cinema, ao teatro, a shows, a bons restaurantes, viajar e sempre ampliar horizontes. Quem não valoriza, não pode cobrar desempenho. Mesmo assim, como se diz popularmente, os professores desempenham, "na moral". Sonho com o dia em que será impossível um ex-aluno ou um aluno apontar uma arma para uma professora. Por respeito, por veneração, por amor. Ou, cinicamente, sonho com o dia em que, ao menos, a professora terá R$ 50,00 na sua bolsa.
JUREMIR MACHADO DA SILVA > correio@correiodopovo.com.br
Recebi por e-mail, mas fica o (triste) registro aqui também! Grifos meus...
Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre-RS, página 4 da edição de 17.06.2010
www.correiodopovo.com.br juremir@correiodopovo.com.br
As palavras mudam de sentido. Muda uma letra, ou duas, e muda tudo. Craque virou crack. Vida de professor transformou-se em atividade de alto risco. Uma professora foi assaltada, em Porto Alegre , dentro da sala de aula, por um adolescente armado com um revólver enferrujado, calibre 32. O guri era ex-aluno da escola. Houve um tempo, perdido nas brumas do passado, em que professores e salas de aula eram sagrados. Levava-se maçã para a professora. Muitas vezes, a professorinha era o primeiro amor, idealizado, impossível, platônico, de um menino. A sala de aula era o lugar da autonomia do mestre, um templo, um palco, a esfera maior do conhecimento. Acabou.
As balas de hoje destinadas aos professores são de revólver. A situação é tão melancólica, para bem e para mal, que o assaltante não tinha munição. Roubou R$ 10,00 da professora. Essa quantia diz muito, diz tudo, grita como o sintoma de uma doença grave, um mal que está aí, bem aí, mas vai sendo empurrado com a barriga. Talvez a professora assaltada seja uma pessoa sensata, aos 58 anos de idade, e não vá para a escola com muito dinheiro na bolsa. Ou quem sabe, escolada, como todos nós, carregue apenas o dinheiro do transporte e o dinheiro do ladrão. Mais provável é que uma professora, na metade do mês, não tenha mais do que R$ 10,00 para carregar no bolso. Esse é o estado das coisas, o estado ao qual chegamos, o caos.
E os governos, que ainda não fizeram a parte deles, não garantiram sequer a integridade dos professores, desandam a falar em meritocracia, transferindo para os professores, que ganham pouco e são agora assaltados dentro das salas de aula, a responsabilidade pela falência do sistema. Ao defender a tal meritocracia, os tecnocratas e os políticos, falsamente racionalistas, estão dizendo que se algo vai mal é por culpa da preguiça ou da incompetência dos professores. Essa é uma das maiores infâmias destes dias melancólicos em que, paradoxalmente, fala-se em sociedade da informação, mas se faz do saber uma categoria de quinta classe. Escolinha como objeto de desejo de pais e alunos , só de futebol. Nelas, talvez o mestre ainda seja respeitado e receba doces. Nem que seja por medo de se perder lugar no time.
Eu ainda sonho com um Brasil voltado para a escola como espaço sagrado. Isso só acontecerá a partir do momento em que se considerar o ensino como primordial e os salários forem melhorados a ponto de alterar a vida cotidiana e cultural dos mestres. Um professor precisa ganhar o suficiente para comprar livros todo mês, ir ao cinema, ao teatro, a shows, a bons restaurantes, viajar e sempre ampliar horizontes. Quem não valoriza, não pode cobrar desempenho. Mesmo assim, como se diz popularmente, os professores desempenham, "na moral". Sonho com o dia em que será impossível um ex-aluno ou um aluno apontar uma arma para uma professora. Por respeito, por veneração, por amor. Ou, cinicamente, sonho com o dia em que, ao menos, a professora terá R$ 50,00 na sua bolsa.
JUREMIR MACHADO DA SILVA > correio@correiodopovo.com.br
Recebi por e-mail, mas fica o (triste) registro aqui também! Grifos meus...
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